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sábado, 11 de outubro de 2008

Afeminado? Tô fora

O texto abaixo foi retirado do livro Mensagens para Gays e Simpatizantes do Moa Sipriano (www.moasipriano.com). Tomei a liberdade de postalo é bem interessante e descreve o cotidiano e situações muitas vezes vividas, principalmente na net... Boa Leitura!
"Afeminado? Tô fora
“Não sou afeminado. Nem curto... Não gosto de afeminado para relacionamento, pois eu não sou. Para amizade... tudo bem... blá... blá... blá...”

Aqui estão algumas das famosas frases anunciadas nas mensagens de sites de encontros. Vemos as mesmas frases pipocarem na tela das salas de bate-papo.
Contarei uma breve historinha real: Era uma tarde de tédio mortal. Eu estava teclando no chat do Terra. Minutos depois que entrei, um sujeito puxou papo. Ao ver o meu nick escalafobético (peludíssimo_sp), foi logo perguntando:
“Você é afeminado?”. Minha resposta: “Não. Eu não sou.” Percebi que a conversa prometia.
“Puxa, que bom”, ele disse, “pois eu não curto cara afeminado.” Nossa conversa engatou. Ele era médico e morava em São Paulo. Disse que era bem sucedido, lindão, experiente, bem vivido (é engraçado como todos são perfeitos atrás de um monitor!) e... solitário.
Apresentei meu currículo padrão. Trocamos nossas afinidades triviais (gostávamos de cinema, teatro, caminhadas, cachorros, viagens e leitura).
Após vinte minutos de conversa, houve troca de números de telefones e de fotos por email.
Pela foto ele aparentava ser simpático. “Lindão” era um pouco demais. Saímos do chat. Conversamos ao telefone. A voz imposta do médico era de derreter corações. Um misto de Francisco Cuoco (voz) com Reinaldo Gianechini (sensibilidade). Fiquei de peepo duro na hora! Combinamos um encontro no Conjunto Nacional, localizado na av. Paulista, em SP, para dali a dois dias. Eu estaria na capital à trabalho e assim uniria o útil ao (des)agradável encontro - você irá entender os motivos mais adiante!
Na data, local e hora combinada eu esperava o possível novo amigo. Ele chegou três minutos atrasado. Estava elegante e muito bem vestido, mas os litros de Azzaro que ele derramou no corpo todo sufocaram um pouco meus neurônios nos primeiros cinco minutos de conversa. Passeamos pelo local, depois fomos almoçar num restaurante próximo. Notei que ele se esforçava demais em parecer “masculino”. Todos os movimentos eram previamente estudados. Todas as palavras que saíam de sua boca eram frases feitas. Bem
diferente do sujeito que eu havia teclado dias atrás. Percebi que não passaríamos de possíveis amigos, já que não houve de imediato uma química
sensual (não confunda com “desejo de trepar”) pelo menos de minha parte. Nossos mundos eram muito diferentes.
Não haveria equilíbrio, pois ele não estava disposto a mudar um milímetro sequer de sua existência em benefício do nosso possível relacionamento. Eu é que teria que me adaptar ao seu modo de vida. Submissão gratuita... jamais!
Na hora do cafezinho o médico entregou o ouro. A maneira com que ele colocou o adoçante na xícara, misturou o café com a colherinha e o sorveu logo em seguida, com dedinho em pé e tudo mais era digno de figurar numa cena da Gaiola das Loucas! Logo em seguida, ao chamar o garçom para acertarmos a conta, vi bem na minha frente o bracinho esticado, o dedinho indicador para cima e a voz em falsete tentando chamar a atenção de um rapaz franzino. Uma cena triste e hilariante ao mesmo tempo. Para terminar, nas duas horas em que estivemos juntos, o sujeito perguntou-me 737 mil vezes se eu não era “afeminado”!!! Pôxa, ele estava do meu lado. Será que não dava para perceber como eu me comportava?
O seu medo em “dar bandeira” era tanto, que bastou pouco tempo para eu perceber o motivo de sua solidão. Não dava para ter uma vida social com aquele sujeito. Acompanhei meu médico “lindão” até seu carro, um Audi prata (esse sim... lindérrimo!). Eu não era o companheiro indicado, pensei. Acredito que ficaríamos eternamente presos em seu suntuoso apartamento nos Jardins (palavras dele), vendo filmes em DVD em sua sala de home teatro (também palavras dele) pelo resto de nossas vidas!
Moral da história: muitas vezes ao não aceitarmos nossos próprios limites e defeitos, projetamos nos outros aquilo que repudiamos em nós mesmos. Dizemos: “não, não e não” para as coisas que acreditamos não possuir dentro de nós e crucificamos o próximo, apontando a todo momento os defeitos alheios.
Somos preconceituosos e isso é um fato. No íntimo, em algumas situações, invejamos aqueles que vivem sua sexualidade naturalmente e não somos humildes o suficiente para utilizar a experiência e a vivência dessas pessoas em benefício próprio. Temos medo da liberdade!
Ser “afeminado” é muito diferente de ser “afetado”. A primeira opção pode ser uma característica natural e “normal” em qualquer ser humano. Conheço homens que são um poço de sensibilidade e carinho e isso não afeta em nada suas virilidades.A segunda opção é algo que algumas pessoas criam para si mesmas. Fazem questão de expor ao mundo um certo sensacionalismo próprio, desejando a todo custo chamar a atenção conscientemente, usando muitas vezes o já batido e infeliz estereótipo típico do viado, da bicha louca.
Esses seres acreditam que isso serve como defesa perante a sociedade. Um comportamento do tipo: “já que sou gay mesmo... deixa eu esculhambar!”
Pare e reflita. Para que gastar tanta energia em ficar se policiando, sendo que se você aproveitasse essa mesma energia para coisas mais dignas e úteis em sua vida a satisfação e realização pessoal seriam algo indescritível!
Aprenda a viver plenamente e a “neurotizar” menos o seu comportamento. Delicado, efeminado, troglodita... não importa. Respeite os limites dos outros e mostre a eles o caminho para que respeitem a sua maneira de ser e de viver. Tudo é muito simples. Basta, novamente, dar o primeiro passo. E isso somente você será capaz de fazer.
* * *

IMPORTANTE: A palavra “afeminado” foi grafada erroneamente de propósito, pois é assim que muitos ainda falam ou escrevem nos sites, chats e e-mails da vida... afeminado = efeminado."

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Restrição apenas para casal homossexual gera indenização

Um "beijo demorado" e de "língua", mesmo trocado por casal homossexual, não pode ser visto como conduta inaceitável. O entendimento é do desembargador Odone Sanguiné, da 6ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que condenou o Clube Sete de Setembro de Santiago e seu diretor por discriminar uma mulher, que estava junto com a companheira, em baile promovido pela entidade.De acordo com o processo, um membro da diretoria pediu para o casal homossexual parar com a troca de carícias durante o baile. Para os desembargadores, a conduta não era costumeiramente exigida de casais heterossexuais, o que indica a efetiva prática de discriminação.Com a decisão, o clube e o diretor devem pagar, solidariamente, R$ 4 mil por danos morais a uma das mulheres, que ingressou com a ação reparatória, com correção monetária pelo IGP-M e juros de mora de 12% ao ano, a contar a data do julgamento pela Câmara.Na primeira instância, ambos foram condenados a pagar R$ 1,5 mil. Por esse motivo, a autora recorreu ao TJ gaúcho para que fosse aumentado o valor da indenização para R$ 5 mil. Os réus também recorreram solicitando a improcedência da ação.O desembargador Odone Sanguiné destacou que ficou confirmado que a autora e sua companheira foram convidadas a se dirigirem a uma sala, onde um dos diretores do clube pediu que parassem com as carícias. "Ao que tudo indica a prova dos autos, a intervenção se dera em razão de preconceito, o que não pode ser tolerado."Ressaltou que a Constituição institui o combate a discriminação, seja de qual espécie for, como um dos objetivos precípuos da República Federativa do Brasil. "Em vista disso, não podem eventuais peculiaridades regionais servir de excludente da responsabilidade do clube e de seu diretor, em face da ocorrência de discriminação, que, no caso em tela, se dera com fundamento na opção sexual da autora."Em depoimento, o segurança do clube disse que o casal homossexual estaria trocando "beijo de cinema", "demorado", "envolvendo língua", conduta incompatível com a dos casais heterossexuais. Por essa razão, as duas mulheres foram conduzidas até a sala da diretoria do clube e advertidas.Na avaliação do desembargador Odone Sanguiné, um beijo não pode ser visto como algo inaceitável. "Ainda mais no local em que se deu, qual seja, no salão de bailes, em uma festa, com diversos outros casais."Ele destacou, inclusive, que outras testemunhas afirmaram que deixaram de freqüentar o clube não pelos beijos da autora com a sua companheira, mas também por causa de casais heterossexuais que se excediam no ato em pleno salão de bailes. "Entretanto, esses não eram alertados para que cessassem as suas carícias, ao contrário do que fora exigido da autora."Para o desembargador, mesmo em uma cidade pequena e, como disse o réu, "conservadora", deve-se buscar a cessação de preconceitos de qualquer espécie. "Ora, eventuais peculiaridade do local em que habita a demandante não poderiam servir de excludente da responsabilidade dos demandados."Por fim, destacou que a reparação deve representar para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de alguma forma o sofrimento passado, não significando enriquecimento sem causa. O montante, disse, "também deve produzir impacto no causador do mal, a fim de dissuadi-lo de novo atentado, efetivando-se o efeito pedagógico".Votaram com o relator os desembargadores Otávio Augusto de Freitas Barcellos e Ângelo Maraninchi Giannakos.Processo: 7001.704.195-5
Revista Consultor Jurídico, 22 de setembro de 2008